domingo, 4 de maio de 2014

Campeão da pobreza de espírito

O cenário é este:

Homem, mulher e filho entram num restaurante. Ao entrar, a mulher pergunta algo ao homem, que não responde e logo de seguida tira dos ouvidos os auriculares ligados ao smartphone. A mulher, que se encaminha para a fila do pré-pagamento, pergunta-lhe o que ele quer comer e ele volta a não responder porque está a ligar o wifi e o ecrã do smartphone, passando a ver um canal de tv em directo. Ela traz dois tabuleiros muito cheios com comida para os três e ele começa a comer, sempre com os olhos pregados no ecrã do smartphone. Durante a refeição, ele nunca olha para a mulher ou para o filho e quando fala limita-se a dizer "a-hã" (como que anuindo ao que quer que seja que lhe estão a dizer; imagino que, se for uma notícia extraordinariamente boa ou o anúncio feito pela mulher do desejo de separação imediata do casal, por ele está tudo ok, ou melhor, estará tudo "a-hã"). O filho não fala; de vez em quando olha para o pai mas percebe nem lhe mostrando o boneco oferecido com a refeição lhe arrancará mais do que um "a-hã" - e, por isso, nem tenta. O que prende toda atenção deste homem é um jogo de futebol, de um clube que já é campeão e que por isso mesmo está a jogar só para cumprir calendário. Jogo que ele está a ver em directo no smartphone, de onde não tira os olhos, por nada. Nada mais lhe interessa, mesmo que aquele jogo nada interesse.

Ponto 1. Se alguma vez eu fizer algo remotamente semelhante, agridam-me.

Ponto 2. Espero que alguma das coisas que aquela mulher lhe disse enquanto estiveram no restaurante tenha sido mesmo o anúncio de separação. Aquela mulher não merece aquilo. Aquele filho não merece aquele exemplo. Aquele homem não merece ter uma família.

Ponto 3. Seja de que clube for, alguém assim mercerá sempre o meu mais profundo desprezo.

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