domingo, 24 de novembro de 2013

(n')O coração

Não gosta de adormecer sozinha no quarto. Foi sempre assim, desde que nasceu. Gosta de ter "compaínha" (como ela diz) até render-se ao cansaço, fechar os olhos e começar a sonhar. Hoje, pegando nesse assunto, tentei uma nova abordagem. Depois de tê-la à porta da cozinha - por duas vezes após ter-se deitado - a reclamar que não queria ficar no quarto sozinha, mandei-a (pela terceira vez) para a cama e expliquei-lhe que, na verdade, ela nunca adormece sozinha como pensa.

Disse-lhe: "Tens contigo aí o UrSoninho e o Memé! E tens o Pateta!" (todos bonecos, com que dorme desde sempre) "E... sabes... mesmo não estando aqui no quarto, o pai e a mãe dormem sempre contigo! Sabes onde? Nos teus sonhos!"

Ela gostou da explicação mas logo a seguir decidiu complementá-la.

"Espera, pai!" (e fez o gesto com que se 'desenha' um coração com as mãos; virou-o para mim, fazendo um som como quem imita uma máquina fotográfica; depois encostou esse 'coração' ao peito dela, fazendo outra vez o som da 'fotografia') "Pronto, pai. Assim ficas nos sonhos e também no meu coração! Vai chamar a mãe para fazer também com ela!"


terça-feira, 12 de novembro de 2013

«O que é o Amor?»

Hoje, em vez de eu contar-lhe uma história, decidimos que ela adormeceria a conversarmos um com o outro. Coisas sem grande nexo, umas palermices e umas gargalhadas. Coisas nossas, banais. Num dos assuntos avulsos que eu ia puxando (nomes de cores, sons de animais, o que fizemos no fim-de-semana...) surgiu também em conversa a canja das avós, que ela adora. Há dias disse-lhe - e hoje voltei a dizer-lhe - que de certeza ela gosta mais daquela do que de qualquer outra canja porque as avós lhe juntam um "ingrediente especial" chamado Amor.

«Pai... o que é o Amor?», perguntou-me ela hoje.

Respondi que é o abraço da mãe, os beijos do pai, a festinha na cara que ela nos faz todos os dias, as brincadeiras que ela tem com os amigos na escola, com os primos e as primas em dias especiais e com a Mariana no verão, o carinho com que as avós maternas fazem a canja, o riso dos avós paternos do outro lado do telefone quando falam com ela... 

... e entretanto percebi que ela adormeceu, a ouvir-me.

Não sei se me ouviu depois disso mas ainda tinha algo mais para dizer-lhe.

O Amor és tu, Benedita.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

(Don't) give peas a chance!


«Pai, eu não posso comer 'êvilhas' porque faz doer a minha testa. A minha testa não quer que eu coma 'êvilhas'. A minha testa, o meu pescoço e as minhas mãos vão doer se eu comer 'êvilhas'!»

sábado, 19 de outubro de 2013

"Imagina lá, Pai!..." (a conversa do bebé ogre)

[Assim, de repente, na cozinha, sem que nada nem ninguém tivesse dado azo ao início de tal conversa...]

«Imagina lá, Pai!... Sim, imagina tu se o bebé fosse um ogre. Sim! Imagina! Já imaginaste o cocó que um bebé ogre faz?!...»

Imagem: DreamWorks

[Nota mental: Esconder os DVD's dos três filmes do Shrek.]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Love is strong (really... REALLY strong!)

- Pai... sabes... gosto mui'ti!
- Eu também, Balu! Adoro-te muito, muito, muito!
- E eu também, Pai! Adoro-te com muuuuita força!!!



Carrocodilos?...

No carro, no caminho entre escola e casa...

- Pai, ach'qu'ouvi um barulho lá fora ali atrás! Não estás a ouvir?!
- Foi? Que barulho? Eu não me apercebi de nada...
- Mas eu sim! Olha lá p'ra trás no espelho, Pai!
- Só vejo os carros, Balu. Está tudo normal.
- Não, não! E temos de nos despachar!! Vêm aí atrás aqueles crocodilos que eu estou a ouvir fazer barulho, Pai!!!


O "chauffeur" inesperado

No carro, à saída de Setúbal para casa...

- Pai, a avó disse que era a mãe que vinha buscar-me!
- Sim, mas afinal vim eu.
- Gosto tanto de ti, Pai! 


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Genética

O pai gosta do The Walking Dead. Ela não vê a série mas as Pinipon's estão sempre de cabeça separada do corpo. Enfim... a genética é o que é.


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

B4LU

Benedita Benny Bu Babalu Bubalu Bubuleta Azeitona, também conhecida como Bunedita, Balulu, Baquica, Benedita BUnita, Babá, Babinha (no infantário), Duquesa d'Óbidos, Trenga Balhenga Balenga Balu e, claro, por Maria Cachucha (e tantas outras alcunhas - todas palermas)... faz 4 anos. São 1461 dias de surpresas. Mas isso até é menos surpreendente, quando dela esperamos tudo, todos os dias.




Há precisamente 4 anos...

«E pronto. Agora espera-se. Na Sala de Espera do Hospital Santa Maria, sou acompanhado por dois senhores que cabeceiam no ar (mais ou menos como o Jardel, só que com mais sono), uma senhora espaçosíssima, um tipo que refila por tudo e um outro incompreensivelmente mal vestido.»


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

«Nós somos lindos!»


Sai da piscina de mão dada comigo, a tremer de frio. Vamos para as toalhas na relva, junto às palmeiras. Eu seco-lhe as pernas, os pés, os braços e a cara. Ao destapar-lhe a cara, ela puxa a minha e dá-me uma beijoca fantástica. De repente, faz cara séria.



- Pai, nós não somos nam'rados!
- Não, Balu?...
- Não, Pai. Nós somos lindos!

[Uma declaração de amor de/para Benedita: 3 anos, 11 meses e 31 dias]

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O "Sítio" (com o M do Pai)

Saio do trabalho, que fica a menos de 10 minutos de casa, mas só rodo a chave do 9ºD uma hora e meia depois. Isto porque ela veio de Setúbal com a mãe e, sabendo que eu também estava prestes a chegar, recusou-se a sair do carro, "exigindo" esperar-se por mim, para irmos todos a "um sítio". "Um sítio" é o código dela (e nosso também, vá) para "McDonalds". Eu estaciono mesmo ao lado delas, ela gesticula na cadeira, abro a porta dela e ela nem hesita: "Pai! Vamos a um sítio!!!"
Eu, só para chatear, faço-me desentendido: "Qual sítio, Balu?"
"O sítio do M do Pai!"
Pronto. Lá fomos. Ao "sítio que se chama Mékógálz; com o M do Marco, que é o Pai". Sabe muito! Mas vá... Eu não tinha almoçado e até me deu jeito o "desvio" de uma hora e meia, entre o parque do bairro e a porta de casa.

[Benedita: 3 anos, 6 meses e 4 dias - a única criança que alguma vez conheci que vai ao "Mékógálz" e prefere a sopa às batatas e aos hamburgueres!...]



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tu és igual a mim. Acho.

Aquele momento estranho em que olhamos para a "descendência" e mais parece que estamos a olhar-nos ao espelho...

Acabo de ouvir-ME na voz da Balu! Está cheia de energia a brincar no quarto. Tem uma mini-máquina de lavar roupa a pilhas que gira sozinha e faz barulho. Ela liga-a e aquilo lá fica, a rodar, uns minutos. Até que pára. Logo que isso acontece, ela levanta-se do chão (onde já está a fazer outra coisa - puzzles) num ápice, olha para mim e diz (exactamente como eu diria, com o mesmo tom e a mesma expressão, até de indicador no ar, à frente do nariz e tudo, como eu faço):

"Pai, a máquina não está a lavar. Acho."

O pormenor da pausa antes do "Acho.", então, tira-me do sério. É autenticamente como estar a ouvir-me e ver-me. Nela.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Saudad'ti

Ontem tivemos uma zanga imensa, com ela a fazer birra (e berreiro) p'ra não dormir. Ralhei, ela respondeu, eu dei-lhe silêncio de volta e ela chorou até, por fim, adormecer. 24 horas depois, de volta ao quarto dela, teve a oportunidade de repetir a birra e a zanga. Não. Veio agora ter comigo e disse-me: "Pai, quando cheguei a casa, tive saudad'ti. Depois tu chega'tes e eu fiquei contente, púque 'tava com saudad'ti." Ainda bem que tudo muda.